A Polícia Civil de Goiás deflagrou nesta quinta-feira (30) a segunda fase da Operação “Césio 171”, que investiga um esquema criminoso responsável por fraudar benefícios de isenção de Imposto de Renda com base em laudos falsos de exposição ao césio-137, material envolvido no maior acidente radiológico do Brasil, ocorrido em Goiânia em 1987.
De acordo com a corporação, cerca de 50 militares da reserva foram beneficiados com a fraude, que teria causado prejuízo de aproximadamente R$ 1,7 milhão aos cofres públicos. O grupo era formado por advogados, um médico, um engenheiro e um militar, e atuava falsificando documentos para simular a contaminação das vítimas.
Na ação, foram cumpridos cinco mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão na Região Metropolitana de Goiânia. Entre os presos estão três advogados, um médico e um engenheiro. O militar investigado já havia sido detido na primeira fase da operação, mas atualmente responde em liberdade.
Segundo o delegado Leonardo Dias Pires, o prejuízo poderia chegar a R$ 79 milhões caso o esquema não tivesse sido descoberto.
A Lei Federal nº 7.713/1988 isenta do pagamento de Imposto de Renda os rendimentos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço, além dos recebidos por pessoas com doenças graves, incluindo contaminação por radiação — brecha legal que o grupo explorava de forma fraudulenta.
Entenda o Esquema
Notas das instituições
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informou que acompanha a investigação para resguardar as prerrogativas profissionais e fiscalizar o cumprimento dos preceitos éticos da advocacia, ressaltando que não comenta prisões ou condenações de inscritos.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) também se manifestou, afirmando que já iniciou procedimentos internos para apuração dos fatos e destacou que a conduta ética é “pilar inegociável” da profissão, prometendo rigor nas investigações.
O acidente com o césio-137
O caso teve origem no acidente radiológico de Goiânia, em 13 de setembro de 1987, quando dois catadores de recicláveis encontraram um aparelho de radioterapia abandonado e o desmontaram, sem saber que continha o material radioativo césio-137. O pó azul emitia forte luminosidade e acabou atraindo curiosos, resultando na morte de quatro pessoas e na contaminação de pelo menos 249.
O césio-137 emite radiação gama, um tipo altamente energético e capaz de penetrar profundamente no corpo humano, causando danos celulares e genéticos. Na época, sete pontos de Goiânia foram isolados e descontaminados — muitos deles hoje novamente habitados.
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